quarta-feira, 7 de março de 2012

As mulheres e o vinho

Para comemorar e homenagear o Dia da Mulher resolvi montar um post especial sobre as grandes mulheres no mundo do vinho... e acreditem, são muitas. Em um universo predominantemente masculino como é o dos vinhos, é importante destacar os grandes nomes femininos...


DONA ANTONIA FERREIRA - A melhor forma de começar é com a grande dama do vinho do Porto, Dona Antonia Adelaide Ferreira, uma mulher empreendedora que conquistou o mercado viticultor de forma extraordinária, contribuindo muito com o desenvolvimento da região do Douro.

Nascida em 1811 em berço de viticultores, conhecida como "Ferreirinha" (sim o próprio nome que carrega o Porto Ferreirinha), Dona Antonia fez com que seu nome fosse sinônimo do Porto de grande popularidade em Portugal. Mulher humilde e com nobreza de alma, recusou muitos títulos a ela oferecidos e esteve à frente de grandes obras de caridade.


VEUVE CLICQUOT - Seguindo a linha dos grandes nomes, outro obrigatório é o de Veuve Clicquot. O famoso Champagne leva o nome de uma mulher, Nicole-Barbe Ponsardin, nascida em 16 de novembro de 1777. Casou-se com François Clicquot, que veio a falecer, deixando-a no controle da companhia que fundou, e que dividia suas atividades entre a produção de champanhe e comercialização de lã. 

Sob o comando de Madame Clicquot (ou "Veuve", viúva em francês), a companhia concentrou seu foco inteiramente na produção de champanhe, tornando-se um dos nomes mais conhecidos no meio da viticultura. Afinal, quem nunca olhou para garrafa de rótulo laranja e reconheceu de cara um dos champagnes mais famosos e conhecidos no mundo? Uma das invenções atribuídas à Madame Clicquot foi o processo do riddling rack, que seria a inclinação graduada da garrafa até a vertical. Ela e seu mestre de adega, Antoine de Müller, juntos criaram o processo usado até hoje na fabricação de champagne, o dégorgement (vide post sobre champagne).



SUZANA BALBO - Enóloga argentina, fundadora e proprietária da vinícola Dominio del Plata, Suzana Balbo é uma mulher que tenho uma enorme admiração pelos seus vinhos e seu trabalho que transparece criatividade e sensibilidade. Nos anos 80, Susana Balbo trabalhou ativamente como consultora internacional de vinhos. Na década seguinte, participou de maneira significativa na transformação dos vinhos argentinos, ajudando a trilhar um caminho na direção dos mercados internacionais, nos quais, desde então, ela e a vinícola Dominio del Plata, fundada em 1999, são presenças constantes.



FILIPA PATO - Filha de Luis Pato (dos maiores produtores de vinho de Portugal) Filipa Pato é uma criativa enóloga e à frente de excelentes vinhos. Na minha opnião ela produz um espumante fantástico, com as características dos melhores vinhos portugueses. Ainda jovem, em 2011 ganhou o grande prêmio de Melhor Produtora do Ano atribuído pela Feinschmecker, prestigiada revista gourmet alemã. A menina que cresceu brincando nas vinhas de seu pai hoje carrega duas palavras chaves para a sua criação: tradição e inovação.




LAURA CATENA - Laura Catena é filha de Nicolás Catena, vinicultor que revolucionou o vinho argentino a partir dos anos 80. Determinada e inspirada no ítalo-americano Robert Mondavi e seu império no Napa Valey, na Califórnia, Laura é uma espécie de embaixadora da vinícola do pai e é a grande representante da nova geração de produtores da Argentina.




VITÓRIA PARIENTE e VITÓRIA BENAVENDES - Vitória Pariente e Vitória Benavides dão o nome e o talento à Bodega y Vinas dos Victorias, produzinho um vinho de altíssima qualidade em denominações espanolas, um verdadeiro sucesso no mundo dos vinhos, agregando técnicas atuais modernas e aproveitam o máximo de seu terroir. São consideradas por Robert Paker a bodega revelação da Espanha em 2006.



MARIA LUZ MARIN - Quando se fala de Pinot Noir chileno, se fala de Maria Luz Marin. Elegante e extraordinária, a enóloga escolheu para seu primeiro projeto a região chilena do Vale de Leyda, situada no Vale de Santo Antonio, ao sul de Valparaiso. A escolha mostrou uma ótima intuição, já que atualmente a região está entre as duas grandes descobertas vitivinícolas do Chile nos últimos anos, junto com o Vale de Limarí, ao norte. Grande empresária que decidiu produzir vinhos de exceção em um dos países que mais cresce na produção de vinhos especiais em todo o planeta.



MADAME MAY-ELIANE - A vida de Madame May-Eliane de Lencquesaing, com suas fantásticas histórias e seu Chateau Pichon-Lalande invadido pelos nazistas durante a Segunda Guerra (fazendo com que ela participasse da resistência francesa), pode ser lido no livro "Vinho e Guerra do Casal Kladstrup" (Edit. Jorge Zahar, R$ 36,00). A paixão de Madame May Eliane por seus vinhos encanta qualquer apreciador de vinhos.




SANDRA TAVARES DA SILVA BORGES - Ah... ok, já sei... vão falar que puxo sardinhas para a terra de Fernando Pessoa, certo? Puxo sim, e se o mesmo tivesse conhecido a grande Sandra Tavares da Silva Borges com certeza teria feito algum poema a ela, afinal é considerada uma das mais belas enólogas do mundo, mas foi seu talento que conquistou o seu espaço. O vinho Quinta do Vale D. Maria 2001, produzido no Douro, foi o grande campeão de uma degustação realizada há três anos em Portugal, batendo ícones "Mouton Rothschild" e o badalado espanhol "Vega Sicília". Além de tintos e brancos, Sandra também produz um belo e poderoso Porto Vintage (a safra 2002 está comentada em cave).



RAFFAELLA BOLOGNA - Ok... e a italiana tem vez? Tem sim... Raffaella Bologna tem muito vigor, determinação e técnica de tirar o chapéu de qualquer marmanjo. Assim como Felipa Pato, ao invés de sangue ela traz vinho nas veias. Falecido há mais de uma década, seu pai, Giacomo Bologna, inventou a Barbera Barricata (foi pioneiro ao colocar vinhos dessa uva em pequenas barricas de carvalho francês), e a inseriu no cenário internacional com seu "Bricco dell Uccelone". Raffaella já conquistas fãs por seu estilo contemporâneo especial.











BARONESA PHILIPPINE DE ROTHSCHILD - Deixando para o final da minha homenagem, erguemos a taça para a grande Baronesa Philippine Mathilde Camille de Rothschild, filha do lendário Baron Philipe, um dos maiores ícones do mundo do vinho. A história que Philippine passa pela Segunda Guerra Mundial e é mais tensa do que a de Madame May. Capturada pelos nazistas, sua mãe faleceu no campo de concentração em Ravensbrück (o mesmo onde Olga Benário, mulher de Carlos Prestes, ficou), em 1945. Philippine herdou do pai a personalidade excêntrica e conseguiu manter o prestígio do Chateau Mouton Rothschild após a morte do barão, em 1988. Falar desse vinho é chover no molhado, de tão bom que é.

Além do Mouton, ela produz na mesma região os prestigiados "D'Armailhac", ex-Chateau Baronne Philippe, e "Clerc Milon", que está entre os vinhos de melhor custo benefício de Bordeaux, valendo muito a pena conhecer. Tudo isso sem contar o ordinário porém famoso "Mouton Cadet". Como se não bastasse toda este currículo fantástico, a baronesa deu sequência ao projeto franco-americano de seu pai no famoso e contestado Opus One, na Califórnia, em parceria com ninguém menos que Robert Mondavi, e esteve à frente do suntuoso projeto Almaviva, obviamente o vinho mais cobiçado do Chile, em parceria com a família Guilisasti da Concha y Toro.



Agora fale a verdade, lugar de mulher é na cozinha ou na adega ?

Boa Degustação... e Feliz Dia da Mulher!




OBS: partes deste texto foram retirados da Revista Adega, do qual agradecemos a colaboração:  
http://revistaadega.uol.com.br/Edicoes/11/artigo27172-1.asp

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